Vacinação contra a Covid-19

CCBC promove debate sobre estratégias de combate ao novo coronavírus no Brasil e no Canadá

Por Sérgio Siscaro

Diversas estratégias têm sido seguidas pelos governos dos países do mundo no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Com a disponibilização de vacinas, cada país adotou critérios de priorização e formas de imunização distintas, de acordo com as necessidades e características de sua população.

Com a finalidade de comparar as respostas à Covid-19 dadas pelos governos brasileiro e canadense, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) promoveu, em 12 de maio, o webinar (em inglês) Brazil-Canada Covid-19: Strategies for Vaccination and Fighting New Variants. Com moderação de Ricardo Meirelles, membro da Comissão de Inovação em Saúde da CCBC, o evento contribuiu para colocar em evidência o que ambos os países têm feito para fazer frente ao desafio comum.

Tecnologia de ponta

Em sua apresentação inicial, o key speaker Eric Marcusson co-fundador e chief strategy officer da Providence Therapeutics, compartilhou informações sobre a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) desenvolvida pela sua empresa. Baseada em Calgary, na província de Alberta, a Providence Therapeutics anunciou no início de maio ter obtido resultados positivos nos testes para a vacina PTX-COVID19-B, que utiliza a mesma tecnologia daquelas produzidas pelos laboratórios pela Pfizer-BionTech e Moderna.

Os imunizantes à base de mRNA caracterizam-se por criar anticorpos contra o coronavírus, ensinando as células a sintetizarem uma proteína que estimula a resposta imunológica do paciente. “Essas vacinas apresentam a vantagem de serem mais fáceis de serem modificadas para aumentar sua eficácia contra as variantes emergentes do novo coronavírus”, afirmou, ressaltando a rapidez do processo de testes clínicos para o desenvolvimento do imunizante e sua capacidade de neutralizar as variantes do Reino Unido, de Manaus e da África do Sul, além da cepa original do SARS-CoV-2.

Para Marcusson, essa tecnologia deverá ser no futuro largamente empregada na prevenção de outras doenças infecciosas, como Zika, influenza e malária.

Atenção às variantes

Ambos países de dimensões continentais, Brasil e Canadá têm diferenças marcantes no que se refere ao combate à Covid-19. “Por não ter participado de forma mais acentuada nos esforços de pesquisa e desenvolvimento de imunizantes, a estratégia do Canadá tem sido mais voltada à aquisição de vacinas do exterior. Uma vez compradas, o processo de vacinação foi organizado por grupos de risco”, afirmou o palestrante Dale Kalina, doutor em doenças infecciosas do Joseph Brant Hospital e professor-associado na McMaster University. No entanto, ele acrescentou que a velocidade do processo de imunização ainda é mais lenta no Canadá do que em outros países. “Cerca de 40% dos canadenses receberam ao menos uma dose – percentual que cai para 3% quando consideramos as pessoas que tomaram duas doses.”

Ele também ressaltou a necessidade de se manter uma constante vigilância quanto às novas cepas do coronavírus. “Podemos esperar pelo surgimento de variantes. Especialmente em áreas nas quais o vírus não é bem controlado. O desafio é global – e, até ele ser resolvido em toda a parte, não terá acabado em parte alguma”,

Novo mindset

A existência no Brasil de um programa nacional de imunização desde a década de 1960 foi fundamental para a erradicação de doenças como a varíola e a poliomielite. A avaliação foi feita pela pesquisadora-sênior Claude Pirmez, que ocupou a vice-presidência de Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entre 2009 e 2013. “Além disso, a atuação da Fiocruz e do Instituto Butantan tem possibilitado a produção das vacinas contra o novo coronavírus no Brasil”, afirmou.

Ela lembrou que, assim como no Canadá, o ritmo da vacinação também é lento no Brasil: apenas 10% da população teria recebido a primeira dose. “E isso não basta, especialmente se considerarmos o tamanho da população e as dimensões do território.”

De acordo com a especialista, a pandemia da Covid-19 deverá trazer mudanças profundas. “Ela muda de forma colossal o mindset global, e deverá trazer alterações não apenas no funcionamento dos sistemas de saúde, mas também em termos de comportamento social. Nada será como antes – especialmente porque teremos novas pandemias no futuro.”