Prepare-se para a nova economia

Transformações digitais mudam de forma irreversível o relacionamento das pessoas com produtos e serviços, e demandam a rápida adaptação das empresas

Por Sérgio Siscaro

Já há alguns anos, o mundo assiste a uma série de mudanças fundamentais que têm alterado significativamente o dia a dia das pessoas e sua relação com produtos e serviços. O processo de transformação digital, que se faz presente por meio da Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), nos avanços da Inteligência Artificial, nas impressoras 3D, na computação em nuvem ou na disponibilidade massiva de aplicativos em smarphones, é o aspecto mais visível de um processo que vem sendo caracterizado como a quarta revolução industrial – ou como a “Indústria 4.0”. Essa nova realidade, e como as economias ao redor do planeta devem se preparar para ela, foram tema de discussões mais uma vez durante a 50ª edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), no final de janeiro.

Em seu clássico livro A Quarta Revolução Industrial (The Fourth Industrial Revolution), o professor Klaus Schwab, fundador e chairman executivo do Fórum, afirma que assistimos hoje a profundas mudanças em todas as indústrias, marcadas pelo surgimento de novos modelos de negócios, pela disrupção de processos tradicionais e pela introdução de novas formas de produzir, consumir, transportar e entregar bens e serviços. A velocidade, a profundidade e o impacto das mudanças as tornariam mais do que uma mera modernização de tecnologias existentes.

Economias saudáveis e sustentáveis em seu crescimento precisam estar atentas a toda essa movimentação, provendo condições para o pleno desenvolvimento dos negócios. Um cenário que também vem sendo constantemente debatido no âmbito das relações Brasil-Canadá, em diversos eventos promovidos pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) com seus associados, como, por exemplo, na consistente participação nas últimas edições da São Paulo Tech Week, o maior evento do setor na América Latina.

Novo modelo de negócios

Para o sócio-diretor da Opus Software, Edison Audi Kalaf, o ambiente de negócios atual precisa contemplar uma série de condições distintas em um ritmo cada vez mais ágil, em um dos aspectos mais visíveis da revolução da Indústria 4.0. “Há hoje a necessidade não mais por bens, mas por serviços. Um exemplo claro é o transporte individual: as pessoas deixam de ver a posse de um automóvel como indispensável ao se utilizarem de aplicativos como o Uber. Essa transformação digital já vinha ocorrendo há décadas, mas a velocidade desse processo nos últimos anos tem sido muito maior”, afirma.

As consequências das mudanças rápidas têm sido analisadas por diversas consultorias e organizações internacionais. A McKinsey considera que metade dos empregos da atualidade serão perdidos em razão do aumento da automação industrial. Para o Fórum Econômico Mundial, 42% das habilidades necessárias para atender às demandas atuais do mercado de trabalho mudarão de forma substancial até 2022.

Os dados são um alerta e Kalaf é taxativo: as empresas que não se adaptarem a esse “bravo mundo novo” ficarão para trás. “A adoção das novas tecnologias traz desafios e oportunidades”, diz. O ponto, segundo ele, é que o antigo modelo de desenvolvimento de plataformas de negócios na internet – que meramente produziam valor a seus consumidores – mudou. “Com a transformação digital, os consumidores enxergam o mundo de forma diferente. O engajamento emocional passou a ser essencial, ao permitir a personalização da oferta do bem ou serviço. Além disso, o valor das plataformas de negócios digitais não está mais necessariamente em seu core business, mas nessa gigantesca base de dados de seus consumidores que eles coletam”, finalizou.

O Canadá, onde a Opus Software está hoje presente por meio de um escritório em Toronto, é um país com um mercado bastante promissor nesse cenário de mudanças, na análise do executivo. “É um mercado estável, no qual a política não interfere na economia”, avalia. De fato, o país vem buscando se adaptar a esse novo cenário por meio do lançamento de uma série de iniciativas nesse sentido. Uma delas é a Next Generation Manufacturing Canada (NGen), voltada a promover a adaptação da indústria canadense às transformações tecnológicas.