O novo rosto da mineração

Busca de padrões mais elevados de segurança e sustentabilidade leva setor a incorporar soluções tecnológicas inovadoras – e Canadá já acumula experiência nessa área

Por Sérgio Siscaro

Na percepção do público em geral, o setor de mineração é geralmente associado à adoção de práticas agressivas ao meio ambiente e às comunidades próximas aos seus empreendimentos. No entanto, este cenário vem mudando, e o Canadá ocupa papel de liderança na adoção de princípios de sustentabilidade nas operações de mineração – protegendo o meio ambiente, dialogando com as comunidades locais e incentivando a diversidade e inclusão.

Com a finalidade de tornar mais conhecidas as soluções de tecnologias limpas para a mineração desenvolvidas por cleantechs canadenses, uma missão empresarial virtual canadense participou em outubro de contatos com possíveis parceiros de negócios brasileiros, efetuados paralelamente à realização da Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram).

A iniciativa, realizada pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) em conjunto com o governo do Canadá (por meio do seu Trade Commissioner Service no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), foi divulgada no início do mês no seminário virtual Canada at the Forefront of Sustainable Mining – que teve um painel exclusivamente voltado para as cleantechs canadenses.

Posição de liderança

“O Canadá é hoje um líder no desenvolvimento de tecnologias limpas para a mineração”, afirmou a gerente comercial do setor de tecnologias limpas do Consulado Geral do Canadá em São Paulo, Monica McDonough. Ela abriu o painel sobre tecnologias limpas, explicando o papel do consulado e da província de Quebec em promover a missão comercial virtual das cleantechs canadenses.

“O setor de mineração canadense apresenta muitas oportunidades para a aplicação de soluções ambientais. Consideramos como ‘tecnologias limpas’ aquelas que tragam benefícios ao meio ambiente; o Canadá tem expertise em soluções limpas em áreas bastante relevantes ao Brasil, como monitoramento de barragens, mineração a seco, tratamento de particulados e poeira no ar, economia de combustível para equipamentos móveis, reúso da água, fontes alternativas de energia e tratamento de rejeitos e resíduos”, afirmou, destacando a diversidade das soluções desenvolvidas pelas cleantechs. “Sempre buscamos entender as demandas das empresas brasileiras, para buscar as soluções mais apropriadas.”

McDonough fez uma rápida apresentação das dez companhias canadenses integrantes da missão. No final do webinar, uma série de vídeos de apresentação dessas cleantechs foi exibido aos participantes, familiarizando-os com os produtos e serviços desenvolvidos por essas empresas.

A seguir, o assessor para Assuntos Econômicos do Escritório de Quebec em São Paulo, Luís Antonini, fez uma apresentação geral da província e de sua destacada atuação no desenvolvimento de fontes de energias renováveis. Ao descrever a atuação do Escritório, abordou a forma como ele contribui para identificar possíveis fornecedores de tecnologias limpas canadenses para empresas brasileiras – identificando suas demandas, pré-qualificando fornecedores de Quebec, apoiando sua seleção e organizando encontros entre as companhias.

“O Quebec possui um ecossistema bastante inovador e colaborativo em mineração. Trabalhamos em estreita colaboração com as associações representativas do setor, com as comunidades indígenas locais aos projetos etc. Isso permite o governo provincial ter uma proximidade muito grande com as empresas”, afirmou Antonini.

Intercâmbio sustentável

Durante a apresentação do webinar, o cônsul-geral do Canadá no Rio de Janeiro, David Verbiwski, abordou o importante papel que a mineração ocupa no intercâmbio comercial entre os dois países – e a colaboração canadense à aplicação de práticas mais sustentáveis no Brasil. “A mineração é um setor de excelência no Canadá, que tem colaborado regularmente com os principais atores brasileiros, objetivando uma mineração mais responsável, eficiente e sustentável. Nesse sentido, gostaria de parabenizar o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) pela assinatura de um acordo de cooperação, em 2019, com a Associação de Mineração do Canadá (MAC, na sigla em inglês), que tem trabalhado arduamente para implantar no setor mineral brasileiro os princípios de sustentabilidade por ela elaborados”, afirmou na ocasião.

Esses princípios – denominados Towards Sustainable Mining (TSM) – foram a seguir abordados pelo vice-presidente sênior da MAC, Ben Chalmers, que abriu o primeiro painel do evento. Em seguida, a fundadora e CEO da I&D 101, Jamile Cruz, a coordenadora da Nexa Resources, Vitória Calvi, e o CEO da Ulula, Antoine Heuty, abordaram a importância da sustentabilidade, da diversidade e da aplicação de políticas inclusivas no setor de mineração.

Durante o evento, o diretor de Relações Institucionais da CCBC, Paulo de Castro Reis, apresentou aos participantes a Comissão de Mineração da entidade – colegiado que trata dos diversos temas relacionados à atividade, identificando desafios e tendências, e criando oportunidades de negócios. “[Ela] envolve empresas brasileiras, canadenses e o ecossistema de mineração aqui no Brasil. Seu objetivo é ser um fórum de discussão e interação entre essas empresas junto a representantes de governos, agências governamentais e setoriais, dos dois países. São compartilhadas boas práticas do Brasil e do Canadá, identificados desafios e estabelecidas ações conjuntas para o setor”, afirmou. Entre 2020 e 2021, mais de 600 pessoas participaram de eventos promovidos pela comissão.

O diretor também comentou sobre o Canada Hub, uma nova iniciativa da CCBC que tema finalidade de facilitar o ingresso de empresas canadenses no mercado brasileiro. O programa oferece a infraestrutura e apoio necessários para iniciar uma operação no Brasil – inclusive dispondo de um endereço legal e serviços de desenvolvimento de negócios.