Oportunidades para o arroz brasileiro no Canadá

Estudo da Apex-Brasil mostra que produto tem potencial de aumentar sua presença no mercado canadense

 Por Sérgio Siscaro

O intercâmbio comercial entre Brasil e Canadá vem aumentando de forma consistente nos últimos anos. Basta lembrar que, em 2020, a corrente de comércio entre os dois países totalizou US$ (FOB) 6,041 bilhões – um aumento de 7% ante os US$ (FOB) 5,645 bilhões verificados em 2019. E essa elevação nas trocas comerciais estimula os exportadores brasileiros a buscarem produtos com potencial de vendas no mercado canadense – e este é o caso do arroz brasileiro.

Estudo recente elaborado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) mostra que o consumo de arroz tem aumentado no Canadá – puxado principalmente pelo fluxo migratório e pela abertura a novas experiências culinárias, aliados à busca de alternativas ao consumo de carne. Atualmente, a maior parte do produto comprado pelo Canadá viria de três países: Estados Unidos, Tailândia e Índia. No entanto, a tarifa de importação de arroz é zero para todas as nações exportadoras, incluindo o Brasil.

O levantamento foi apresentado no final de agosto em webinar promovido pela Apex-Brasil em parceria com a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e com o setor de promoção comercial do Consulado Geral do Brasil em Montreal (Secom Montreal).

Vendas aumentam

Dados da consultoria Euromonitor, mencionados no estudo, indicam que em 2019 o mercado de arroz totalizava US$ 304,1 milhões. Mas fatores como o aumento de imigrantes asiáticos e a percepção do arroz como um produto saudável deverão elevar esse valor para US$ 323,9 milhões em 2023.

De acordo com o levantamento, o Canadá importa principalmente o arroz semibranqueado ou branqueado, mesmo polido ou brunido (glaceado), que corresponde ao código SH 1006.30 do Sistema Harmonizado de Descrição e Codificação de Mercadorias da Organização Mundial das Alfândegas (OMA). Nos últimos anos, as exportações brasileiras desse tipo de arroz tiveram um desempenho bastante positivo, quintuplicando de US$ (FOB) 135,9 mil em 2013 para US$ (FOB) 676,84 mil em 2020. Vale ressaltar que valor do ano passado já é pouco mais que o dobro do registrado em 2019, quando as exportações brasileiras de arroz ao Canadá somaram US$ (FOB) 320,37 mil.

Mudanças de hábitos

O impacto que a disseminação da pandemia da Covid-19 trouxe ao dia a dia dos canadenses, com a necessidade de se manter o distanciamento social e de se trabalhar em casa, fez com que o hábito de frequentar restaurantes fosse substituído pelo preparo doméstico de alimentos. Esse fato, por sua vez, estimulou que os consumidores buscassem novos ingredientes – o que favoreceu a utilização do arroz nas refeições. Esta mudança é importante, uma vez que, normalmente, o produto não era muito utilizado no país; de acordo com o estudo da Apex-Brasil, em 2019 os canadenses consumiram 5,2 quilos per capita do produto. Nos Estados Unidos esse consumo é de 8 quilos per capita, e no Brasil, de 35,7 quilos per capita.

Contudo, tendências demográficas podem contribuir para reverter esse quadro. O consumo tradicional de massas como fonte de carboidratos têm experimentado uma redução, especialmente por conta da preferência das gerações mais jovens por produtos como macarrão instantâneo (noodles) e arroz. “Além da questão geracional, a presença de imigrantes de origem asiática, como indianos, chineses e filipinos, contribui para o crescimento de tais categorias, visto que são pratos tradicionais na dieta oriental”, prossegue a análise.

Os diferentes paladares regionais também contam na hora de estabelecer uma estratégia para colocar o arroz brasileiro no mercado canadense. Os consumidores da região de Ontário, especialmente os que vivem em Toronto, seriam mais abertos a novos sabores do que os de Quebec, que se mostram mais apegados às tradições culinárias francesas. Já na Colúmbia Britânica, na costa oeste canadense, haveria uma influência maior da gastronomia japonesa e chinesa em cidades como Vancouver, e uma preferência por produtos orgânicos.

Ingresso no mercado

Duas empresas – a Mars, com a marca Uncle Ben’s, e a Ebro Foods, com a Minute Rice – lideram o mercado canadense de arroz, e se beneficiam do fato de não haver produção local do grão. Outros varejistas vêm investindo em categorias específicas de arroz, como é o caso da Loblaw (com a marca No Name) e Sobeys (Compliments).

“Os exportadores brasileiros devem buscar parcerias diretamente com os varejistas e oferecer preços competitivos com os dos Estados Unidos, principal fornecedor. A boa recepção a alimentos internacionais concede a possibilidade de posicionar o arroz branco como tipicamente brasileiro e diferenciá-lo de outras marcas”, avalia o documento elaborado pela Apex-Brasil. O estudo também ressalta as possibilidades competitivas do arroz parboilizado, que seria a opção por consumidores interessados em um produto saudável e de fácil preparo.

Contudo, três desafios a serem superados são elencados pela análise da Apex-Brasil: um, mais geral, é a competição com o produto oriundo dos Estados Unidos. Os outros dois referem-se especificamente ao arroz branco, que teria lento crescimento de consumo no Canadá e ainda seria percebido como um produto menos saudável do que outras categorias de arroz, como o integral e o parboilizado.

“Por fim, uma oportunidade que pode agregar mais valor ao arroz branco é apresentá-lo juntamente com outros grãos de arroz ou de outros tipos, como quinoa. Algumas apresentações comuns são a mistura de arroz branco com arroz integral ou mesmo o arroz selvagem canadense. Existem também inovações que adicionam aroma ou sabores ao produto, como frango, alho ou cogumelo”, acrescenta o documento.

Exigências locais

Como qualquer produto (e em especial aqueles da categoria de alimentos e bebidas), o arroz também é objeto de regulamentações no Canadá. Os exportadores devem estar atentos a essas exigências – em especial as normas do Ministério da Saúde do Canadá (incluindo suas Diretrizes Alimentares do Canadá), da Agência Canadense de Inspeção de Alimentos (CFIA, na sigla em inglês) e na Agência de Serviços de Fronteira do Canadá (CBSA, na sigla em inglês). Há ainda regras para a rotulagem dos produtos alimentícios que entram no Canadá, assim como normas específicas nas províncias.