Mineração em alta

Setor se destaca na pauta de comércio exterior entre Brasil e Canadá, mas expansão da atividade ainda depende de ajustes regulatórios; convenção da PDAC contribui para viabilizar novos negócios para o setor

 Por Sérgio Siscaro

O setor de mineração é um dos principais destaques no comércio bilateral entre Brasil e Canadá. Em 2020, mesmo com as incertezas econômicas decorrente do impacto da disseminação do novo coronavírus, o segmento se manteve ativo – e elevou sua participação nas trocas comerciais entre os dois países.

De acordo com dados do levantamento Quick Market Facts, elaborado pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) com base em informações da balança comercial brasileira, as vendas totais de minérios do Brasil para o Canadá em 2020 totalizaram US$ (FOB) 3,048 bilhões – o que representa 72% do total de exportações do Brasil para o Canadá em 2020, que totalizou US$ (FOB) 4,235 bilhões. Os principais produtos foram ouro, alumina calcinada e a categoria que reúne ferro fundido, ferro e aço.

Além disso, o setor ainda vem se mostrando uma interessante opção de investimento para companhias canadenses.  Um importante passo nessa direção foi dada em março do ano passado, quando o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) assintou um memorando de entendimento com as bolsas de valores Toronto Stock Exchange (TSX) e TSX Venture Exchange (TSXV) com vistas ao aumento dos investimentos de mineradoras canadenses nos próximos anos e à maior participação de companhias brasileiras do setor no mercado de capitais canadense.

Questões regulatórias

No entanto, ainda há pontos que devem ser ajustados para permitir um maior crescimento do setor. De acordo com o coordenador da Comissão de Mineração da CCBC, Wilson Antônio Borges, isso decorre do fato de que o país ainda oferece muitas oportunidades de expansão para a atividade. “O Brasil é um país que tem uma vocação mineral muito forte. No entanto, se considerarmos todas as terras disponíveis para a pesquisa mineral, excetuando-se a Amazônia e terras indígenas, temos apenas metade delas exploradas para a tividade mineral. Os 50% restantes, administrados pela Agência Nacional de Mineração (ANM), representam um potencial de exploração. E não o são por conta de questões regulatórias e excesso de burocracia”, afirma. Ele ressalta que a atividade mineradora é atualmente responsável por cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Segundo Borges – que também preside a Câmara Setorial da Mineração  (Casmin) da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e é responsável pela área de relações institucionais da mineradora Lundin –, é justamente essa parte regulatória que assusta possíveis novos investidores, que a perceberiam como um fator de insegurança jurídica. “Isto pode levar ao redirecionamento desas novas operações a outros países”, pondera.

Para tentar mudar esse quadro, Borges diz que a Comissão de Mineração da CCBC atuará em conjunto com outras entidades do setor para discutir uma agenda de prioridades do setor que sensibilize as autoridades com argumentos técnicos.  “Teremos essa pauta preparada nas próximas semanas. Isso é importante para que deixemos de falar apenas entre nós; temos que nos comunicar com a sociedade em geral”, salienta.

PDAC virtual

A expansão das exportações de minérios do Brasil ao Canadá e a perspectiva de novos investimentos no setor receberam novo impulso com a realização da 89ª edição do evento anual da Prospectors & Developers Association of Canada (PDAC), que reuniu investidores, analistas, executivos do setor e representantes de governos, entre outros públicos. Foi uma oportunidade única para que os participantes possam estabelecer contatos, conhecer tendências e fazer negócios. Mas, desta vez, com uma diferença: o evento foi realizado neste ano de em formato totalmente online, por conta das restrições trazidas pela pandemia.

A convenção aconteceu entre 8 e 11 de março, e em suas apresentações tratou de diversos temas ligados ao universo da mineração – como investimentos, mercado de capitais, perspectivas de exploração, tendências globais e relações com comunidades indígenas e os impactos e desafios trazidos pela Covid-19, entre outros assuntos. “O evento é uma ocasião bastante positiva para o setor, e a Comissão de Mineração da CCBC certamente terá novamente uma participação positiva”, afirmou Borges, poucos dias antes do evento.

Mais informações sobre o evento da PDAC poderão ser acessadas em https://www.pdac.ca/convention.