Minas Gerais intensifica comércio com Canadá

Estado, que já respondeu por quase um terço das exportações brasileiras àquele país, conta agora com o apoio da CCBC para estimular negócios  


Por Sérgio Siscaro

Conforme tem sido revelado de forma consistente nos últimos anos, o comércio exterior entre Brasil e Canadá tem se mostrado cada vez mais sólido – tanto no sentido das exportações quanto das importações. No caso brasileiro, essa complementaridade comercial entre os dois países também se reflete em algumas das unidades da federação; um exemplo que chama a atenção é o de Minas Gerais, estado que há poucos meses passou a contar com um escritório regional da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), dedicado exclusivamente a fortalecer os laços entre as empresas mineiras e canadenses.

E esses laços têm mostrado, ao longo do ano, uma tendência de intensificação. De acordo com dados da balança comercial, a corrente comercial (ou seja, a soma entre exportações e importações) entre Minas Gerais e o Canadá totalizava US$ (FOB) 1,294 bilhão entre janeiro e outubro de 2022. Esse total representa um aumento de 47,18% na comparação com igual período de 2021, e corresponde a 14,23% de todas as trocas comerciais realizadas entre Brasil e Canadá nos dez primeiros meses de 2022.

A maior parte desse resultado deve-se às exportações de Minas Gerais ao Canadá, que totalizaram US$ (FOB) 814,37 milhões, alta de 19,5% na comparação com os dez primeiros meses de 2021. Destacaram-se no período as vendas de bulhão dourado, com US$ (FOB) 510,27 milhões, ou 62,65% do total; e de café não torrado em grão, com US$ (FOB) 107,39 milhões, que correspondeu a 13,18% do total.

Já as importações assistiram a um salto maior ainda: as compras de produtos canadenses por Minas Gerais entre janeiro e outubro aumentaram 142,2% na comparação entre 2021 e 2022, atingindo US$ (FOB) 480,5 milhões. Neste caso, o principal item da pauta foi o cloreto de potássio, que registrou US$ (FOB) 348 milhões – ou 72,42% do total. Sua predominância não surpreende, uma vez que é utilizado como fertilizante agrícola – e o Canadá tem suprido a necessidade do Brasil pelo produto, cujo fornecimento normal foi prejudicado pela invasão russa à Ucrânia, no início do ano.

Histórico consistente

Esses resultados confirmam uma tendência que já se observa há anos, e que que atingiu seu momento mais expressivo em 2020. Naquele ano, a soma das exportações e importações entre Minas Gerais e o Canadá totalizou US$ (FOB) 1,36 bilhão – valor que representou 15,17% de todas as trocas comerciais entre Brasil e Canadá, que naquele ano somaram US$ (FOB) 6,153 bilhões. Como ponto de comparação, em 2010 a corrente comercial entre Minas Gerais e o Canadá era de apenas US$ (FOB) 471,3 milhões – montante que se elevou de forma consistente ao longo da última década. No ano passado, o montante registrado foi de US$ (FOB) 1,137 bilhão, com participação de 15%.

As exportações de Minas Gerais ao Canadá são as principais responsáveis por esse volume de trocas comerciais. Em 2020, ano que também assistiu ao pico das vendas externas do estado para aquele país, foi contabilizado um montante de US$ (FOB) 1,2 bilhão – ou 28,67% do total das exportações brasileiras ao mercado canadense. Em 2010, esse total era de apenas US$ (FOB) 205,3 milhões. No ano passado, contudo, esse total declinou para US$ (FOB) 877,2 milhões.

No sentido inverso, apesar dos números serem menores, a mesma tendência de gradual aumento se observou nos últimos anos – embora com algumas quedas que logo seriam recuperadas. Assim, as importações de Minas Gerais junto ao Canadá, que eram de US$ (FOB) 265,9 milhões em 2010, passaram para US$ (FOB) 455,89 milhões em 2011, se reduziram nos anos seguintes em razão do declínio da economia brasileira, e retornaram a esse patamar em 2021, quanto somaram US$ (FOB) 260,097 milhões – total que representa 10,1% de todas as compras internacionais feitas pelo estado junto ao mercado canadense, e evidencia um avanço de 71,4% na comparação com as importações registradas no ano anterior, que somaram US$ (FOB) 151,7 milhões.

Mais conexões

Se estes números mostram a capacidade de recuperação do comércio bilateral entre Minas Gerais e o Canadá, por outro lado também sugerem um grande potencial a ser explorado. De acordo com o responsável por coordenar o escritório da CCBC em Belo Horizonte, Erik Rodrigues Silveira, ainda há muito o que fazer para que as companhias mineiras

possam aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado canadense. “Nossas empresas lutam para reduzir custos, pagar os impostos, e vencer os desafios inerentes à variação da taxa cambial, mas os sistemas regulatórios de qualquer país e as dificuldades logísticas representam fatores decisivos para um projeto envolvendo importação e ou exportação.”

De acordo com ele, é necessário que as companhias se preparem previamente, conhecendo bem a legislação de comércio exterior e estudando as características do mercado desejado. “Precisamos saber relacionar os diversos aspectos, que começam pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), passam pela descrição do produto, pelo regulamento, pelas exigências impostas por órgãos governamentais de cada país e pela superação do desenho logístico, de forma a se reduzir os custos”, complementa.

Na avaliação de Silveira, a entrada em operação do escritório da CCBC em Belo Horizonte contribuirá para aumentar o intercâmbio comercial entre Minas Gerais e Canadá. “Consigo visualizar a viabilidade do tão sonhado relacionamento efetivo entre Brasil e Canadá a partir de um trabalho que procura, muito mais do que demonstrar um produto ou uma empresa, aproximar culturas diferentes. Nosso estado pode agora contar com este potente e efetivo canal de negócios; o escritório da CCBC chegou para fazer a conexão dos pontos que permitirão trazer soluções para nossas empresas e ampliar os negócios com o Canadá”, finaliza.

O escritório da CCBC em Belo Horizonte foi inaugurado no final de agosto deste ano. A nova unidade será responsável por incentivar o aumento do intercâmbio comercial do estado com o Canadá e estimular a atração de investimentos bilaterais em diversos setores da economia.