Diversidade em todas as suas formas

CCBC promove fórum com especialistas para discutir o tema e trazer a experiência do Canadá

Por Sérgio Siscaro

Diversidade, equidade e inclusão são temas cada vez mais presentes nas empresas. Seja pela relevância do tema na sociedade ou pela conscientização de que se deve combater os vieses inconscientes ainda presentes em processos de atração e retenção de colaboradores, o assunto tem pautado discussões em todo o mundo. A Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), por meio de sua Comissão de Diversidade e Inclusão, também tem atuado no sentido de buscar aumentar a participação de grupos ainda minorizados nas empresas. Sua iniciativa mais recente nesse sentido foi a realização do Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão Brasil-Canadá, que aconteceu em  23 de novembro.

Realizado de forma híbrida (presencialmente, na sede da CCBC, e com transmissão via plataforma Zoom), o evento teve dois eixos principais: a discussão sobre a inclusão de pessoas com deficiência (PCDs) no mercado de trabalho, e os desafios das empresas em aumentar a diversidade étnica e de gênero em seus quadros de colaboradores.

A abertura ficou por conta da cônsul-geral do Canadá em São Paulo, Heather Cameron, que falou sobre iniciativas do seu país para ampliar a participação de PCDs nas empresas – como a Challenge 50-30,  iniciativa do governo federal canadense em parceria com empresas e organizações voltadas à diversidade, e que busca aumentar a representação e inclusão de diversos públicos – com o objetivo de que as companhias tenham 50% de presença feminina em suas equipes, e 30% de grupos minorizados.

“Muitas empresas [canadenses] são hoje reconhecidas por sua conduta responsável nesse sentido. Seu papel é crucial na adoção de práticas inclusivas que beneficiem a elas e à sociedade”, afirmou, acrescentando ser importante que esses valores sejam compartilhados pelo Brasil,  uma vez que o país é um importante parceiro comercial do Canadá. 

Acessibilidade em pauta

Os desafios da inclusão de PCDs e a criação de vieses inconscientes no ambiente de trabalho – que acabam influenciando decisões de recrutamento e promoção, por exemplo – deram a tônica do primeiro bloco do fórum, intitulado O Futuro é Acessível.

O segmento teve mediação de Pascale Thivierge, do Consulado-Geral do Canadá em São Paulo, e contou com a participação de Júlia Drezza, da Mais Diversidade, consultoria que atua na elaboração, acompanhamento e avaliação de políticas de diversidade no ambiente de trabalho; Maria Paz, do escritório Trench Rossi Watanabe; e Hellen de Oliveira e Jessé Rodrigues, ambos da consultoria PCD+,  voltada a processos de inclusão nas empresas.

Um ponto em comum na discussão foi a urgência em se combater o capacitismo – ou seja, a discriminação feita com base na percepção de que uma PCD não poderia exercer determinadas atividades. Apenas dessa forma seria possível, de acordo com Drezza, se criar uma cultura de inclusão e acessibilidade. “Todos temos vieses inconscientes. Só quando nos educamos conseguimos ‘mudar a chave’”, complementou Oliveira.

Por mais representatividade

O bloco seguinte, Diversidade Étnica e de Gênero nas Empresas, trouxe percepções sobre como esses temas são abordados nas organizações – seja no processo de recrutamento, no dia a dia do ambiente de trabalho ou em políticas de capacitação e de desenvolvimento de carreira. 

A mediação ficou a cargo de Anouk Bergeron-Laliberté, senior trade commissioner e chefe do setor comercial no Consulado-Geral do Canadá em São Paulo, e o painel contou com a participação de Carine Bruxel, chief transformation officer e sócia da Datum TI; Luanny Faustino,  da consultoria CKZ, especializada em programas de sensibilização de temas de diversidade e inclusão; e Clara Serva, sócia do escritório Tozzini Freire Advogados.

Em sua introdução, a representante do Consulado do Canadá pontuou os avanços do país em termos de diversidade e inclusão, e a política do país de buscar disseminar esses valores – inclusive incluindo-os em  acordos de livre comércio com outras nações.  “Tentamos influenciar outros países a adotarem esses valores, para o benefício de todos! Da mesma forma, buscamos incentivar essa cultura nas empresas”, disse.

As diversas formas de se tentar levar essa cultura para as empresas, e os desafios que têm sido encontrados – e superados – foram abordados nessa parte do fórum. Como representante de uma empresa que atua no segmento de tecnologia da informação (TI), cuja força de trabalho é majoritariamente masculina, Bruxel pontuou que nem sempre foi assim. “Nas décadas de 1960 e 1970, eram as mulheres que desenvolviam inovações tecnológicas nessa área. Com o surgimento das big techs do Vale do Silício,  passou a existir uma cultura de que essa atividade era ‘coisa de meninos’, desestimulando a participação das mulheres”,  ponderou. 

Já a questão da interseccionalidade – ou seja, a sobreposição de diferentes identidades (étnica, de gênero etc.) foi colocada por Faustino. “Temos que pensar na diversidade cognitiva, a fim de não colocarmos simplesmente as pessoas em caixas! E as empresas têm que atentar a essa amplitude; uma companhia diversa e aquela que espelha a sociedade na qual está inserida.”

Reconhecimento público

Durante o intervalo do fórum, a vice-presidente da CCBC e coordenadora da Comissão de Diversidade e Inclusão da Câmara, Esther Nunes, anunciou que a entidade receberia, naquele mesmo dia, o Selo Paulista da Diversidade – iniciativa do governo do estado de São Paulo voltada a organizações públicas, privadas e da sociedade civil que desenvolvem boas práticas de promoção e valorização da diversidade. A CCBC foi premiada na categoria “Adesão”, que reconhece as organizações que estão em fase de planejamento e implementação da sua política de diversidade.

“Trata-se de um importante reconhecimento para a Câmara. Isso comprova que cada ação desenvolvida possui extrema relevância não apenas para aprimorar o debate, como também melhorar nossa sociedade como um todo”, afirmou Nunes, acrescentando que o “caminho é longo, mas que precisamos estabelecer metas e trazer equidade para todos os grupos de pessoas”.

Os interessados em assistir ao Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão Brasil-Canadá podem acessá-lo aqui.