Novos horizontes para o exportador

Evento virtual promovido pela Abimapi destaca importância de empresas brasileiras buscarem mercados alternativos

Por Sérgio Siscaro

As oportunidades oferecidas pelo mercado canadense para alimentos relacionados à indústria de biscoitos, massas e pães foram apresentadas pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) no final de janeiro, em webinar promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi). Mediado pelo diretor internacional da entidade, Rodrigo Iglesias, o encontro tratou também das oportunidades abertas para o setor pelo continente africano.

Na ocasião, o diretor de Relações Institucionais da CCBC, Paulo de Castro Reis, ressaltou que o Canadá geralmente não está no radar dos exportadores brasileiros. “As empresas acabam se acomodando com os mesmos países de destino, e perdem grandes oportunidades em mercados com os quais não estamos familiarizados”, disse.

O Canadá apresenta um conjunto de características que favorece a entrada de produtos alimentícios diferenciados – tais como o alto poder aquisitivo da população, sua elevada disposição em buscar novas experiências, e sua atenção a fatores como forma de produção e a origem do produto. “O alto nível de conscientização dos consumidores leva à necessidade de os exportadores brasileiros trabalharem em uma narrativa que saliente os pontos positivos do produto, do ponto de vista social ou ambiental”, disse.

Ele lembrou ainda o caso do açaí e do pão de queijo – que há algum tempo eram disponibilizados em prateleiras de supermercados contendo produtos destinados à comunidade brasileira residente no Canadá, mas que hoje já são comercializados de forma mais ampla. “Os produtos caíram no gosto dos canadenses”, pontuou.

Baixa presença do Brasil

As estatísticas de comércio exterior do Canadá mostram que o país é um dos maiores importadores de biscoitos, massas e pães, ocupando sempre uma posição entre os dez maiores compradores globais nos diversos segmentos de produtos do setor. Entretanto, o Brasil ainda não aparece na lista de seus principais fornecedores. Em 2019, o Canadá importou US$ (FOB) 1,234 bilhão em pães, bolos e biscoitos; o Brasil foi responsável por apenas US$ (FOB) 113,2 mil dessas compras, ocupando a 53ª posição no ranking de fornecedores. O mesmo ocorreu nos demais segmentos, como o de produtos à base de cereais (44º lugar), massas alimentícias sem ovos (38º) e misturas para preparar bolos e biscoitos (19º), entre outros.

Segundo o diretor da CCBC, o mercado canadense ainda apresenta tendências bastante favoráveis – como o aumento no consumo desses produtos observado em 2020, por conta do isolamento social acarretado pela pandemia da Covid-19. Além disso, reforçou que há bastante espaço para novos fornecedores ingressarem no mercado canadense.

Plataforma de negócios

Além de poder acessar um mercado consumidor até agora praticamente inexplorado, os produtores de biscoitos, massas e pães têm outra vantagem ao exportar para o Canadá: a constituição de uma base para reexportação dos produtos para Europa, Ásia e Estados Unidos, devido aos acordos comerciais unindo o mercado canadense a outras regiões do globo. “Os custos operacionais e tributários no Canadá são menores, e torna-se mais fácil exportar para os EUA a partir do Canadá”, afirmou.

Castro Reis falou ainda sobre as atividades da CCBC para estimular as vendas brasileiras ao mercado canadense, por meio de iniciativas como o envio de amostras para degustação por potenciais importadores, ou a promoção de eventos que abram a possibilidade de negócios e parcerias entre brasileiros e canadenses. “Cada país tem uma cultura de negócios particular, e o Canadá não é diferente. Daí a necessidade de se ter muito cuidado no primeiro contato com possíveis parceiros de negócios”, pontuou, acrescentando que em abril a CCBC promoverá uma rodada de negócios virtual entre os dois países, com foco no setor de alimentos e bebidas. “É hora de buscar novos mercados, adaptar produtos e contatar potenciais compradores. Há muito espaço para crescer”, finalizou.

Oportunidades na África

O evento da Abimapi contou também com a participação do presidente da Câmara de Comércio Afro-Brasileira (AfroChamber), Rui Mucaje, que expôs as oportunidades abertas pelo mercado africano. Ele ressaltou a existência de diversos acordos comerciais regionais entre países do continente, com destaque para a nova Área de Livre Comércio da África Continental (AfCFTA, na sigla em inglês), que tem o potencial de tornar-se o maior bloco do gênero no mundo. “Ao contrário do Canadá, os países do continente têm necessidade de produtos alimentícios mais básicos – e demonstram grande interesse em fazer negócios com o Brasil com simpatia”, afirmou Mucaje.