Ministra da Diversidade, Inclusão e Pessoas Com Deficiência do Canadá destaca troca de experiências entre Brasil e Canadá

Kamal Khera afirma que ter mais mulheres atuando nas empresas e indivíduos com backgrounds diversos em cargos de chefia é importante para a tomada de decisões e para os negócios

Por Deborah Oliveira

Diversidade é um fato, mas inclusão é uma escolha. A frase é de Kamal Khera, ministra da Diversidade, Inclusão e Pessoas Com Deficiência do Canadá, que participou, no final de novembro, do terceiro Fórum Global Contra o Racismo e a Discriminação, realizado pela UNESCO, em São Paulo, e da segunda edição do Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão Brasil-Canadá, realizado pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) em sua sede, em São Paulo.

O governo do Canadá tem o compromisso de investir em iniciativas que apoiem a inclusão e a promoção da diversidade, bem como o combate ao racismo e à discriminação em todas as suas formas. A Ministra Khera destacou a importância de colaborar com outros países para enfrentar o desafio global que o racismo e a discriminação representam e o compromisso do Canadá de continuar a enfrentar as desigualdades raciais, no âmbito de sua Estratégia Anti-Racismo, da Década Internacional para os Povos Afrodescendentes e da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Nascida em Nova Deli, na Índia, Kamal Khera tinha dez anos quando chegou ao Canadá com a sua família. Após se formar na Universidade de York, trabalhou como enfermeira na unidade de oncologia do St Joseph’s Health Centre em Toronto. Candidatou-se pela primeira vez em 2015 e foi eleita Membro do Parlamento de Brampton West. Desde então, foi Ministra dos Idosos, Secretária Parlamentar do Ministro do Desenvolvimento Internacional, Secretária Parlamentar do Ministro da Receita Nacional e Secretária Parlamentar do Ministro da Saúde.

Nesta entrevista, realizada durante o evento na CCBC, a ministra Khera falou sobre sua trajetória pessoal, como uma das mulheres mais jovens já eleitas para o Parlamento e a mais jovem ministra do governo do primeiro-ministro Justin Trudeau, e sobre os principais desafios e conquistas desde 2015.

Como uma das ministras mais jovens a ocupar um cargo no governo Trudeau, a senhora poderia nos contar qual a importância da diversidade em sua jornada? Como a sua experiência pessoal pode inspirar outras jovens mulheres?

Quando fui eleita em 2015, tinha 26 anos, o que fez de mim uma das mulheres mais jovens eleitas para o Parlamento e a ministra mais jovem do nosso governo quando fui nomeada em 2021. Como mulher sul-asiática, não havia muitas pessoas na política que se parecessem comigo naquela altura. Nos comprometemos a criar espaços para mulheres, pessoas pretas, jovens e outros, possibilitando que embarquem em futuras jornadas políticas. Não posso nunca subestimar o poder da representação; ter alguém que se pareça conosco em uma posição de poder é muito importante.

Digo sempre que a diversidade é um fato, no Canadá ou no Brasil, mas a inclusão é uma escolha. Temos que deliberar muito ao fazer essas escolhas se quisermos realmente construir países e comunidades mais inclusivos.

Quando vencemos, em 2015, o primeiro-ministro Justin Trudeau nomeou, pela primeira vez no Canadá, um gabinete com paridade de gênero, com 50% de mulheres e 50% de homens. Quando se reúne pessoas de diferentes origens à volta da mesa, isso traz mais conhecimentos e perspectivas, e produz melhores resultados. Ter mais mulheres à mesa nos levou a implementar um programa de cuidados infantis de 10 dólares por dia, que não só apoia as famílias, mas também permite que mais mulheres entrem no mercado de trabalho do Canadá. Assim, todos beneficiam da inclusão, as nossas comunidades e o país. 

Fico feliz de ver mais mulheres pretas e de origens diversas na política, e por ver mais jovens se apresentando para serem representantes em diferentes níveis do governo. Todos nós precisamos de criar estas oportunidades para as pessoas.

Em 2020, o primeiro-ministro Justin Trudeau lançou o desafio 50-30 para tornar os locais de trabalho no Canadá mais diversos e inclusivos. A pesquisa Women in Business, elaborada pela Grand Thorton em 2022, mostra, por exemplo, que as mulheres ocupam hoje 32% dos cargos seniores de gestão globalmente. Quais ações vêm sendo desenvolvidas pelo governo canadense para incrementar a presença feminina e de pessoas diversas em cargos melhores e com melhores remunerações?

Desde que lançamos o desafio 50-30, desafiando as empresas canadenses a ter 50% dos cargos de administração ocupados por mulheres e 30% por outros grupos sub-representados, incluindo pessoas de diversas raças, indígenas, pessoas com deficiência e membros da comunidade LGBTQ2+, mais de 2,5mil corporações aceitaram o desafio. Há ainda muito trabalho a fazer para atrair mais companhias, mas isto demonstra como a escolha da inclusão é crucial também no setor corporativo. Ter mais mulheres atuando nas empresas e indivíduos com origens diversas em cargos de chefia é importante para tomar as melhores decisões e, consequentemente, alcançar os resultados mais significativos para todos.

Com o foco crescente em ESG, as empresas precisam incluir a diversidade e a inclusão como prioridade em diversos cargos, como é o caso das mulheres ao ocuparem cargos nos conselhos de administração das empresas. Por que avaliar a adoção da diversidade e da inclusão nas empresas é crucial para o sucesso das empresas?

Temos visto resultados positivos nas empresas com a adoção de práticas empresariais mais inclusivas. Precisamos acompanhar esses dados e resultados para podermos mostrar ao resto do mundo que ter pessoas diversas à volta da mesa não é apenas a coisa certa a se fazer, mas também a mais inteligente a se fazer pelas empresas, uma vez que as leva a tomar melhores decisões de negócios.

Como o Canadá pode contribuir com sua expertise em diversidade e inclusão para tornar a força de trabalho mais igualitária dentro das empresas brasileiras?

Há muitas oportunidades de parceria entre o Canadá e o Brasil. Durante a minha viagem, tive um encontro com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, para falar sobre colaboração para combater o racismo e criar oportunidades iguais para todas as pessoas que vivem no Canadá e no Brasil. Também pude conversar com os membros da CCBC e fiquei muito feliz em ver a diversidade desse grupo. Há imensas oportunidades para que nossos países e empresas construam conexões comerciais mais fortes.

Sem dúvida, o Canadá tem muito a compartilhar. No Fórum Mundial da UNESCO, falei sobre o fato de termos lançado no Canadá a nossa primeira Estratégia Anti-Racismo. Trata-se de uma abordagem de todo o governo para combater o racismo e a discriminação, que serve de roteiro para que o nosso governo seja mais inclusivo e representativo da diversidade canadense. Também temos feito investimentos específicos para grupos que merecem igualdade, através das nossas estratégias e fundos para o empreendedorismo feminino, preto e indígena, proporcionando acesso a financiamento sustentável, capital e oportunidades para desenvolvimento de empresas. Portanto, há muito que o Canadá pode compartilhar com o Brasil, assim como há muito que o Canadá pode aprender com o Brasil. Com a CCBC e este grupo maravilhoso, podemos trabalhar juntos para garantir oportunidades para todos.