Exportadores brasileiros ganham espaço no mercado de alimentos e bebidas da América do Norte

Estratégia brasileira é apostar na alimentação saudável, uma das maiores tendências do mercado, e aproveitar o espaço deixado pelas incertezas dos fornecedores da Ásia e Europa Ocidental.

Por Marcel Salim

Água de coco, açaí, suco de laranja e de uva, frutas frescas, mel, blends de chás e especiarias com sabores brasileiros. Esses são apenas alguns dos produtos da comitiva do Brasil que atraíram a atenção de importadores e grandes redes internacionais durante a Sial, maior feira de bebidas e alimentos da América do Norte, que aconteceu de 9 a 11 de maio em Toronto (Canadá).

Eles estiveram expostos no pavilhão que a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) organizou como parte da estratégia para apresentar os produtos brasileiros e fomentar negócios com compradores do mundo todo. Na edição deste ano, a Sial atraiu mais de 20 mil compradores internacionais que tiveram contato com cerca de 1 mil expositores de 50 países, com potencial para diversos segmentos, incluindo frutas, alimentos, verduras, bebidas e carnes em geral.

A iniciativa da comitiva, no entanto, não se limitou à feira. Foram dezenas de reuniões em rodadas de negócio previamente agendadas com compradores, além de visitas técnicas e eventos de networking durante os sete dias dessa que foi a maior missão comercial já organizada pela CCBC na Sial.

O mercado canadense vem se tornando bastante atraente nos últimos anos, com grandes oportunidades para os produtos do Brasil. Apenas em 2022, ele movimentou US$ 137,9 bilhões, com crescimento anual previsto de 5,19% ao ano no período entre 2022 e 2027, de acordo com dados do Statistics Canada. Já o gasto médio anual das famílias canadenses com alimentos foi de US$ 14,7 mil no ano passado, uma alta de quase US$ 1 mil em relação a 2021.

Muito dos gastos são com alimentos para preparo em casa (79% dos canadenses cozinham em casa semanalmente e muitos estão optando por uma alimentação mais saudável, segundo pesquisa Euromonitor). É aí que ganha expressividade o apelo pelos produtos brasileiros, como frutas e sucos.

Estreitando laços

Nas últimas décadas, Brasil e Canadá ampliaram fortemente suas relações bilaterais e, paralelamente, o consumidor estrangeiro está cada vez mais disposto a pagar mais por itens que sejam saudáveis e de qualidade, com sabores exóticos e únicos, além de serem produzidos com padrões de responsabilidade social e ambiental.

Não apenas isso, o Canadá é considerado um grande hub e vitrine para outros mercados. “Esse encontro entre Brasil-Canadá nunca foi tão forte como atualmente e os números da balança comercial revelam que é um momento oportuno para produtores brasileiros estreitarem ainda mais os laços com compradores do exterior”, afirma Daniella Leite, diretora de Associados e Negócios da CCBC.

Estande da CCBC na Sial 2023: produtos brasileiros atraíram a atenção de potenciais compradores e interessados em descobrir mais sobre o Brasil.
(Crédito: Divulgação/CCBC)

É o caso da empresa paulista Guacira Alimentos, que está levando arroz para os compradores canadenses. “Faz cinco anos que marcamos presença na Sial sempre com o apoio da CCBC, incluindo em assuntos de desenvolvimento de mercado, visitas e reuniões. Nossa percepção ano a ano é que a demanda pelo produto por parte do Canadá tem crescido constantemente. Neste sentido, a participação nesse tipo de evento se torna fundamental para firmarmos novos acordos e parcerias”, diz Bruno Barbaresco, International Business Manager da companhia.

Ainda na edição de 2023, um grande diferencial foi a forte participação de empresas do Paraná que integraram a comitiva para emplacar seus produtos, apoiadas pela Invest Paraná, a agência de negócios governamental vinculada à Secretaria Estadual da Indústria, Comércio e Serviços (Seic).

As empresas paranaenses já foram ao evento com negociações pré-agendadas. São elas: a fabricante de sucos prontos para consumo Prat’s, de Paranavaí; a cooperativa Coacipar, também de Paranavaí, que negociou a venda de suco concentrado e suco pasteurizado para indústrias de bebidas e envasadores; e a fabricante de maquinário para envase de alimentos Profills, de Curitiba.

“Nossas missões comerciais têm sido muito efetivas na conquista de novos mercados. Por isso fomos para a Sial com o objetivo de colocar os produtos paranaenses na prateleira dos canadenses e de qualquer outro país interessado a partir de todo o trabalho de prospecção de negócios realizado previamente”, afirmou o secretário da Indústria, Comércio e Serviços, Ricardo Barros.

“A vantagem do nosso trabalho em conjunto com a CCBC na missão é a objetividade. Os empresários já viajam com agendas pré-definidas com potenciais compradores, e isso já representa um grande passo para atingir resultados”, destacou o diretor de Desenvolvimento Econômico da Invest Paraná, Rogério José Chaves.

De acordo com Paulo de Castro Reis, diretor de Relações Institucionais da CCBC, as negociações iniciadas na missão terão ainda mais força de continuidade com a abertura de um escritório da instituição em Curitiba e de uma representação comercial da Invest Paraná no Brasil Hub da CCBC no Canadá.

“Os produtos paranaenses geram grande interesse e têm potencial no mercado canadense. Principalmente os que apresentam diferenciais de qualidade, origem e certificação, que proporcionam mais confiança aos parceiros internacionais”, avalia Castro Reis.