Brasil poderá responder por 15% das exportações de hidrogênio verde no futuro

País vai sediar a COP 30 em 2025 e atrai a atenção de investidores internacionais e empresas canadenses para projetos em energia limpa

Por Deborah Oliveira

O Brasil vem ganhando cada vez mais destaque no cenário energético global nos últimos anos. Por sua extensão territorial e pela riqueza em recursos naturais, o país desponta como um dos mais importantes players do setor em energia renovável, limpa e sustentável. Com potencial para receber grandes projetos em energia solar e eólica e ingressar no futuro mercado de desenvolvimento de hidrogênio verde (H2V), o Brasil vem se dedicando cada vez mais à pesquisa e ao desenvolvimento, bem como parcerias com empresas do setor, universidades e instituições em projetos que reafirmem seu compromisso com temas como a transição energética e a descarbonização.

Não à toa, Belém, a capital do Pará, será sede da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30, que acontecerá entre 10 e 21 de novembro de 2025. Ao ocupar a presidência do grupo das economias mais industrializadas, o G20, em 2024, e da conferência climática da ONU, a COP 30, em 2025, o Brasil terá oportunidade de influenciar o debate internacional.

Considerado uma tendência que pode contribuir fortemente para a solução do clima ao diversificar a matriz energética e oferecer segurança, o hidrogênio verde ainda engatinha nesse setor por conta do alto custo para sua produção sem que se envolva a emissão de CO2. No ano passado, a consultoria BCG apontou, durante o Brazil Climate Summit, que o Brasil pode ser o terceiro país – atrás dos EUA e do Canadá – com o melhor custo-benefício para o fornecimento de hidrogênio de baixo carbono. A estimativa é de que as exportações brasileiras desse produto representem 15% do comércio global.

A produção de hidrogênio verde no Brasil, a partir da energia solar e eólica, vem sendo avaliada como uma das formas mais baratas e a expectativa geral do mercado é que em 2050 o país seja o produtor com os custos mais atraentes. Os parques eólicos situados no Nordeste, que concentram os maiores ventos, oferecem um ambiente propício para favorecer as parcerias com empresas especializadas no setor de energia limpa.

“O Brasil tem uma matriz energética de dar inveja aos seus concorrentes, um potencial de crescimento que vai além da energia renovável, o que favorece o desenvolvimento de projetos em energia limpa para esse setor. Já vemos um movimento de fundos de investimento estrangeiros investindo no país, ainda que essa tecnologia para a produção de hidrogênio verde seja ainda embrionária”, diz Lucas Becker, country manager da Clir Renewables no Brasil e na América Latina, uma empresa líder do setor de tecnologia limpa, e associada a Câmara de Comércio Brasil Canadá (CCBC).

O executivo lembra que um dos projetos que receberam investimentos de US$ 5 bilhões é o de produção de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará. O aporte foi feito pelo grupo australiano Fortescue, quarta mineradora do mundo e a primeira a obter licença prévia no Brasil. A localização é estratégica, pois permitirá que as exportações para os mercados dos EUA e da Europa sigam com custos mais baixos. A produção de hidrogênio de baixo carbono ainda está em fase de regulamentação no país, com projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional e regulamentação em elaboração pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Becker acredita que as parcerias com grandes empresas de setores da indústria, como mineração, é um dos caminhos para o crescimento desse mercado, que pode envolver, inclusive, companhias de pequeno e médio portes canadenses, além das grandes. “Os desafios nesse setor são muitos e o Brasil está vendo os investimentos acontecerem. Um exemplo é o fundo de pensão canadense CPP Investments, que fez uma joint venture com a Votorantim Energia para a criação de uma holding com o intuito de acelerar a transição energética global, em ativos solares e hídricos, e a Brookfield canadense e a norueguesa Statkraft, que aposta no investimento no país. Essas empresas estão investindo e o cenário climático expõe também questões relacionadas aos riscos nesse setor, o que exige planejamento e estudos que possam contemplar esses pontos. Para se ter ideia, hoje, 66 empresas são proprietárias de parques solares e eólicos no Brasil. Desse total, duas delas são canadenses”, explica Becker.

O executivo ressalta ainda que é preciso reciclar experiências para diminuir riscos, assim como o apoio do governo. “O Canadá é um país que investe globalmente em energia e as empresas canadenses que já atuam aqui transmitem a expertise canadense no setor. Trazer essa experiência de fora é vital. A Clir Renewables possui um volume de informações globais, com informações e dados, e nosso trabalho é oferecer esse conhecimento para que os investidores possam trabalhar mais assertivamente e reduzir riscos em seus projetos”, conclui.