A diversidade como estratégia, inovação e até longevidade dos negócios

O tema foi debatido durante almoço realizado pela Comissão de Assuntos Econômicos da CCBC

Por Silvia Pimentel

A correlação entre um ambiente de trabalho diverso e inclusivo e o aumento da produtividade nas empresas, que se revertem em bons resultados financeiros, tem sido demonstrada em vários estudos mundo a fora. De acordo com especialistas no assunto, sem diversidade, é praticamente impossível promover a inovação que virá das pessoas que possuem olhares diferentes.

O progresso das iniciativas nesse sentido,  no entanto, ainda é lento no Brasil, apesar das evidências positivas da inclusão e diversificação de colaboradores nas organizações. Uma pesquisa inédita e recente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) que analisou a diversidade de raça de administradores e empregados das companhias de capital aberto, por exemplo, mostrou que 81,1% dos conselheiros e diretores se autodeclaram brancos. Pardos representam 3,2%, pretos, 0,6%, amarelos 1,8%.

A inclusão do recorte racial no levantamento – até então só havia o de gênero para a mesma pesquisa realizada de tempos em tempos -, só foi possível com a publicação, em 2021, da Resolução 59/21, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que passou a exigir que dados sobre raça fossem divulgados pelas companhias abertas.

“Infelizmente, esse ainda é o retrato do que ocorre na maioria das empresas brasileiras. A diversidade ainda está só no discurso”, diz Jandaraci de Araújo, executiva negra, palestrante, referência nacional em ESG, diversidade e inclusão e uma das co-fundadoras do Conselheira 101, programa que visa a inclusão de mulheres negras e indígenas em conselhos de administração, consultivo e comitês.

Uma das convidadas presentes no almoço realizado pela Comissão de Assuntos Econômicos da CCBC (Câmara de Comércio Brasil-Canadá), Jandaraci afirma que passou da hora de as empresas olharem para a agenda da diversidade em toda a sua plenitude – etnia, idade, gênero, religião, orientação sexual, condições físicas e mentais – como uma estratégia de negócios e inovação.

“Há uma responsabilidade das pessoas que estão nas organizações. Precisamos mudar quem decide as contratações. Se a pessoa que está no comando não pensar em ser um agente de transformação, com uma visão de longo prazo, não avança na agenda, comprometendo até a sobrevivência das empresas”, prevê.

Participantes do almoço realizado pela Comissão de Assuntos Econômicos da CCBC

Na visão de Sandro Magaldi, especialista em gestão estratégica e vendas e co-fundador do MeuSucesso, plataforma com foco em empreendedorismo no Brasil, que também participou do almoço promovido pela CCBC, o tema da diversidade é extremamente relevante. De acordo com ele, já existem pesquisas claras mostrando que as empresas que, efetivamente, demonstram uma preocupação maior com os aspectos sociais, além dos econômicos, têm obtido os melhores resultados. 

“Há estudos que demonstram, por exemplo, que os fundos de investimento que mais crescem na Europa e mais cresceram nos últimos anos no Brasil são aqueles que valorizam empresas com agenda de responsabilidade social. Ou seja, as companhias que atuam sob a agenda ESG conseguem captar investimentos a valores mais favoráveis do que aquelas que não têm esse mesmo compromisso”, diz.

Para Magaldi, é preciso lembrar o que já dizia Peter Drucker, um dos maiores pensadores da administração moderna, de que toda empresa é uma organização social. Tanto que o primeiro contrato estabelecido para uma empresar existir de fato é o social. A sociedade, então, oferece uma licença para que a companhia possa atuar no seu ambiente. E como tal, a partir desse momento, ela tem a responsabilidade de trocar valor com a sociedade.

“Não há mais espaço para as organizações que têm como foco exclusivo a extração de valor financeiro da sociedade. Não há mais a possibilidade de os líderes não pensarem na organização como uma entidade social, mesmo que privada e, como tal, com responsabilidades importantes em sua atuação”, reforça. 

O especialista chama a atenção para o grau de exposição a que as organizações estão expostas atualmente, o que reforça ainda mais a necessidade de uma mudança de postura em relação ao tema. “Hoje, com as redes sociais, qualquer ato em qualquer organização é facilmente exposto e compartilhado com todos. Essa maior vigília dos entes sociais em relação ao que uma empresa faz traz desafios importantes”, conclui.