Sinal verde para carne brasileira no Canadá

País habilita mais um frigorífico para embarcar o produto; medida segue acordo entre os dois países anunciado em março 


Por Sérgio Siscaro

Aos poucos, a carne produzida no Brasil vai encontrando espaço no exigente mercado canadense. O frigorífico Frigol recebeu no início de julho a certificação das autoridades do Canadá que possibilita a exportação de carne bovina àquele país. O produto será embarcado a partir das unidades da empresa em Água Azul do Norte e São Félix do Xingu, ambas no Pará. 

Esse movimento faz parte do recente acordo, firmado entre os governos brasileiro e canadense em março deste ano, para a expansão das exportações de carne bovina e suína in natura àquele país. A decisão, comemorada na época pela ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), abre o caminho para aumentar em US$ 150 milhões por ano as vendas de carne bovina e suína in natura para o mercado canadense.  

Como resultado prático do acordo, em junho o Brasil recebeu a habilitação do Canadá para os primeiros frigoríficos que poderiam vender carne suína in natura ao país – dois da Seara Alimentos (do grupo JBS) e um da Cooperativa Central Aurora. Todas as unidades habilitadas são de Santa Catarina – isto porque, quando a solicitação brasileira foi feita aos canadenses, este era o único estado reconhecido como livre da febre aftosa sem vacinação e, portanto, apto para exportar carne suína.

Potencial de mercado 

Em 2021, as exportações brasileiras de carnes bovinas e suínas ao Canadá totalizaram US$ (FOB) 19,59 milhões – valor 46,7% maior do que o registrado em 2020, e 104,7% superior ao total contabilizado em 2019. De acordo com o adido agrícola da embaixada brasileira em Ottawa, Paulo Márcio M. Araújo, as possibilidades de se intensificar esse intercâmbio são reais. “O Brasil já é hoje o segundo maior fornecedor de carne de frango para o Canadá, depois dos Estados Unidos. Só não exportamos mais por conta da limitação de cota do Canadá. Para a carne suína, que não tem uma cota preestabelecida, há um potencial ainda muito grande de expansão”, afirma. 

Ele conta que os frigoríficos da Seara, Pamplona, Master Agroindustrial e Aurora já estão habilitados para exportar suínos ao Canadá; um quinto, da BRF, aguarda a certificação. Há ainda em curso um pedido brasileiro para se expandir para outros estados a licença de exportação. “O Canadá ainda precisa reconhecer que os estados de Paraná e Rio Grande do Sul são livres de febre aftosa sem vacinação, além de outras doenças. Temos um pedido protocolado nesse sentido; no entanto, as autoridades canadenses afirmam necessitar fazer uma vistoria in loco – e, com as limitações trazidas pela pandemia da Covid-19, as viagens foram restritas.” 

Para o adido agrícola, as perspectivas de o Canadá habilitar mais estabelecimentos brasileiros são reforçadas pelo reconhecimento, por parte da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), de que outros estados brasileiros estão livres da febre aftosa sem vacinação. 

Oportunidades comerciais 

Araújo lembrou que o primeiro contêiner de carne bovina do Brasil deverá chegar ao Canadá em meado de agosto. “É uma carne moída, para aplicação industrial, proveniente de gado zebuíno, que não existe no Canadá”, afirma. Ele acrescenta que essa carne entra no mercado canadense sem pagar impostos, uma vez que a cota estabelecida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) possibilita esse benefício para os países que embarcam até 11,8 mil toneladas por ano.  

“É importante salientar que estamos retomando as negociações do acordo entre Mercosul e Canadá, e um dos itens dessa pauta é a questão da cota – a criação de um novo patamar ou o estabelecimento de uma cota específica para os países do bloco”, complementa. 

Além da abertura do mercado canadense de carne, o Brasil poderá ir ocupando espaços com outros produtos agropecuários. “Atualmente nossas exportações ao Canadá estão muito concentradas em produtos como açúcar, café, frango e madeira. Queremos aumentar nossa participação no mercado de frutas, e em produtos como vinhos, espumantes, cafés especiais, mel e derivados. É questão de negociar para ir superando os obstáculos que ainda existem”, finaliza.