Mineração no mercado de capitais

Bolsas canadenses têm se destacado como importante fonte de recursos para as empresas do setor 


Por Sérgio Siscaro

Mais do que nunca, a necessidade das empresas brasileiras em ter acesso a fontes de investimento é crucial para a manutenção ou expansão de suas operações. Pressionadas por um lado pela incapacidade do poder público em atuar como agente disponibilizador de recursos, em razão das limitações orçamentárias, e, por outro, pelo próprio momento atual vivido pela economia global e nacional, as companhias buscam outras maneiras de obter capital. Uma dessas alternativas é o mercado de capitais canadense.  

A maior bolsa de valores do país é a Toronto Stock Exchange (TSX). Considerada a 11ª maior do mundo e a terceira mais importante da América do Norte, ela é controlada pelo grupo TMX Group, e tem em seu portfólio companhias dos mais diversos setores econômicos canadenses, e atua também nos mercados de fundos de investimento, entre outros. É o principal canal de captação de recursos para as indústrias da mineração e de óleo e gás no Canadá. 

Atuando em mercados globais, o TMX Group também tem sob seu controle a TSX Venture Exchange, a TSX Alpha Exchange, a The Canadian Depository for Securities, a Montréal Exchange, a Canadian Derivatives Clearing Corporation e a Trayport, que fornece serviços financeiros em geral.  

Atração de investimentos 

Juntas, a TSX e a TSXV são os maiores canais de captação de recursos para a indústria mineradora no mundo. Em abril deste ano, as duas bolsas reuniam papéis de 1.170 companhias mineradoras, com uma capitalização de mercado combinada da ordem de CAN$ 628 bilhões. Além disso, a TSX e a TSXV registraram, ao término de 2021, um total de 1.464 transações do setor, o que representa cerca de 42% de todo o financiamento à atividade no mundo. Atualmente, 43% das mineradoras de todo o globo estão listadas na TSX e na TSXV.  

Das 198 companhias listadas na TSX, duas são do Brasil: Talon Metals  e Verde Agritech. Já na TSXV, que reúne 975 empresas, outras duas são brasileiras: Bravo Mining e Sigma Lithium Corporation. 

Esta forte atuação na área de mineração torna o mercado de capitais canadense bastante atraente para empresas de outros países que atuam nessa área – inclusive brasileiras. O potencial de atração de investimentos e captação de recursos proporcionado por essas bolsas fez com que, em março de 2020, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) assinasse um memorando de entendimento com a TSX e a TSXV, com vistas ao aumento dos investimentos de mineradoras canadenses nos próximos anos e à maior participação de companhias brasileiras do setor no mercado de capitais do Canadá. 

Com a finalidade de tornar mais conhecidos os benefícios do mercado de capitais canadenses para as empresas mineradoras do Brasil, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) apoiou, no primeiro semestre deste ano, iniciativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que levou ao Canadá um grupo de companhias para conhecer como as questões de governança são tratadas naquele país. A missão incluiu uma visita à TSX e à TSXV, na qual os participantes puderam conhecer melhor o funcionamento dessas bolsas e seu papel em estimular a adoção de práticas alinhadas a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) por parte das mineradoras. 

O TMX Group deu boas-vindas para a delegação brasileira que participou da PDAC 2022

Mineração sustentável

Essa postura tem sido, inclusive, cada vez mais perseguida pelas empresas de mineração – que, em razão da própria natureza da atividade, têm potencial de gerar impactos negativos ao meio ambiente e às populações que vivem próximas das minas. O Canadá tem uma longa experiência nesse sentido: já em 2004, a Mining Association of Canada (MAC) lançava a iniciativa Towards a Sustainable Mining (TSM), por meio da qual buscava orientar as companhias do setor rumo a padrões que hoje são conhecidos como ESG.  

Um dos recursos disponibilizados pelo TMX Group nesse sentido é o ESG 101, plataforma voltado a ajudar as empresas a entender as complexidades dos relatórios de sustentabilidade e buscar as melhores práticas para atender a critérios ESG nas suas operações. A elaboração de relatórios que comprovem a aderência das mineradoras a padrões sustentáveis é essencial, uma vez que tem sido cada vez maior a busca, por parte de investidores, de companhias que incorporem o ESG às suas atividades.